Museu Angelo Spricigo concede homenagem à docente da UFSC Blumenau

10/05/2017 14:42

A Professora Gestine Trindade recebeu uma homenagem do Museu Angelo Spricigo. Seu nome agora marca um dos ambientes do local, que foi totalmente remodelado e reinaugurado no dia 22 de abril. Localizado em Concórdia, no oeste catarinense, o museu abriga a maior coleção de máquinas de costura do Brasil. São mais de 1.500 exemplares de 160 marcas diferentes, sendo 95 marcas únicas. São itens de diversos países: Brasil, Argentina, Itália, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Checoslováquia, EUA, China, Japão e Hungria.

O reconhecimento foi resultado de pesquisa desenvolvida pela docente, com participação do estudante bolsista do curso de licenciatura em Química Darlei Daniel Hertel. Denominado “História, Trabalho e Educação: os ofícios na trajetória de Ângelo Spricigo (Urussanga/SC, 1915) e o patrimônio industrial do Museu Temático de Máquinas de Costura (Concórdia/SC)” o projeto objetiva analisar os processos sociais, de trabalho e de educação na trajetória de Angelo Spricigo e inventariar o museu temático.

Atualmente Gestine e Darlei estão finalizando a biografia de Spricigo, que deverá ser lançada em abril de 2018, mês do aniversário de 103 anos do biografado. Para conhecer um pouco mais sobre a pesquisa e sobre a trajetória do Sr. Spricigo, eles conversaram com a equipe de comunicação da UFSC Blumenau.

O que despertou o interesse pelo trabalho e história do Senhor Angelo?

Gestine – A relação entre “trabalho e educação” é a minha principal linha de pesquisa. O projeto se insere na temática das corporações de ofício (associações existentes na Idade Média, que reuniam trabalhadores [artesãos] de uma mesma profissão). Desenvolvi parte da pesquisa do doutorado na Itália, país em que as corporações de ofício eram muito presentes e de onde vieram muitos dos imigrantes que se fixaram em Santa Catarina. Esses processos práticos de trabalho, de característica medieval, repercutem, até hoje, na formação de diversas profissões nas universidades, inclusive na formação da nova geração de professores. O Sr. Spricigo é natural de Urussanga, nasceu em 1915 e é filho de imigrantes italianos. Em junho de 2013, lendo o jornal, me deparei com uma matéria sobre ele. Fiquei interessada em conhecê-lo, investigar a sua trajetória profissional e, de modo particular, me instigou o fato de um “homem comum”, com baixo nível de escolarização, que conseguiu desenvolver a consciência da preservação do patrimônio industrial, da tecnologia, do trabalho e dos trabalhadores.

Como surgiram as máquinas de costura neste contexto?

Gestine – Spricigo aprendeu o ofício de sapateiro ainda na infância. Ele já era sapateiro quando, em 1945, se mudou para Concórdia e lá instalou a oficina de produção de calçados. Vale lembrar que, no mesmo período, em 1944, a Sadia foi fundada em Concórdia. Ele chegou a confeccionar botas para os trabalhadores do frigorífico e sapatos para o proprietário da empresa, o Atílio Fontana. Mas então, com o avanço da produção industrial de calçados, os sapateiros passaram a se dedicar tão somente ao conserto. Foi quando Spricigo deixou o ofício para se tornar pedreiro. Após, nos anos de 1970, diante da aposentadoria, ele iniciou o acervo de máquinas de costura consertando duas máquinas que tinha em casa, que eram da esposa Maria. Ele começou como um hobby, uma forma de ocupação do tempo.

Como ele foi constituindo o acervo?

Gestine – Doações, algumas compras e também em ferros-velhos. Todas as máquinas em exposição hoje estão consertadas e catalogadas, inclusive com placas descritivas.

Quem auxilia nesta manutenção?

Gestine – Essencialmente os netos e filhos, que tiveram a sensibilidade e a competência de preservar a coleção e dar continuidade ao trabalho do avô. Existe um esforço para que o museu passe para tutela de uma universidade, no caso, há interesse de que a UFSC tome a frente desse processo, inclusive com transferência de parte do acervo para a região de Blumenau, onde há forte tradição têxtil. Isso sem mencionar as possibilidades de pesquisa nos campos histórico, tecnológico e educacional proporcionadas pelo museu.

Como está o processo de elaboração da biografia?

Darlei – No momento estou responsável pelas transcrições dos áudios das entrevistas feitas com o Sr. Spricigo, que somam horas. A tarefa é minuciosa. Finalizando essa etapa, se tudo ocorrer bem, pretendemos organizar o livro da biografia e lançá-lo em abril de 2018, quando o Angelo completará 103 anos.

Qual(is) contribuições vocês identificam com a descrição da trajetória do biografado?

Darlei – Especialmente a preocupação histórica do Angelo. Hoje nós olhamos para as coisas, objetos comuns do cotidiano, sem atribuirmos valor sócio-histórico para elas.

Gestine – É um retrato particular das profissões de ofício que estão em desaparecimento, tais como alfaiates, sapateiros etc., e que precisam ser registradas porque é a história do trabalho e dos trabalhadores.

E vocês identificam algo de positivo na perpetuação destes traços de ofício sobre as profissões atuais?

Gestine – De forma alguma, por serem resquícios medievais. O avanço qualitativo da educação brasileira passa pela formação de professores atuais ao seu tempo. Não superaremos o atraso das ideias pedagógicas sem a explicitação e a compreensão deste fenômeno.

(Texto: Comunicação UFSC Blumenau. Fotos: Museu Angelo Spricigo)

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