Professor e pesquisador Valdemar Sguissardi demonstra avanço do setor privado sobre o domínio da educação universitária no País
No mesmo ano em que a UFSC iniciou seu processo de interiorização com a criação dos campi de Joinville, Araranguá e Curitibanos, Santa Catarina ganharia uma nova instituição de ensino superior federal com a criação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em setembro de 2009. Nessa época, se estabelecermos um rápido paralelo com os estados vizinhos, os catarinenses tinham menos opções de acesso à educação nesses estabelecimentos: o Rio Grande do Sul já contava com cinco universidades públicas federais e o Paraná, duas.
Entretanto, a expansão promovida pelo governo federal não supriu um déficit histórico na educação brasileira. Em conferência proferida no campus Blumenau, o professor aposentado da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade Metodista de Piracicaba, Dr. Valdemar Sguissardi, um dos mais destacados pesquisadores na área do ensino superior brasileiro, demonstrou aos presentes, na tarde do dia 7/3, que estamos em um patamar ainda longe do ideal.
Autor de um dos mais completos diagnósticos sobre as políticas de expansão e acesso ao ensino público superior, Sguissardi produziu, em 2014, a pedido da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), em parceria com o Conselho Nacional de Educação (CNE), um “raio-x” do desenvolvimento das universidades federais no período de 2002 – 2012.
Com olhar crítico e questionador, o convidado deu início ao tema afirmando que “Estado não é sinônimo de público”. Para ele o hibridismo dos interesses públicos e particulares que permeiam a definição das leis (se referindo especialmente Congresso Nacional) faz com que, muitas vezes, universidades públicas estatais tenham menos serviço ao público do que instituições privadas: “observa-se universidades comunitárias ou confessionais, que possuem caráter privado, desenvolvendo pesquisas e projetos que atendem muito mais à região onde estão inseridas dos que as federais”, exemplificou.
O pesquisador diferenciou também dois aspectos nas políticas de expansão do ensino superior no Brasil. Para ele o Prouni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (Programa de Financiamento Estudantil) democratizaram o acesso, mas não a permanência. Esses fatores somados à crescente propagação de grupos empresariais do ramo educacional sobre o ensino superior, encarado como um mercado a ser explorado, tornam cada vez mais desafiador o cenário para as universidades federais.
Segundo os dados coletados, a educação encontra-se entre os quinze ramos mais lucrativos da bolsa de valores no Brasil. Num intervalo de sete anos, de 2007 a 2014, 31% do ensino brasileiro já se encontrava sob a gerência de cinco grupos educacionais. Hoje, aproximadamente 70% das matrículas do ensino superior encontram-se em instituições com fins lucrativos. “São 1 milhão e 300 mil alunos nas federais. Se o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica - autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça) autorizar a compra do grupo Estácio de Sá pela Kroton Educacional eles englobarão um universo de 1 milhão e 500 mil estudantes”, apresentou (saiba mais sobre o caso aqui e aqui).
Quando questionado sobre as tendências para o futuro, Valdemar ressaltou a rápida expansão do capital aberto no ramo universitário. Com precisão, apresentou estatísticas dos últimos Censos da Educação Superior, que demonstram a crescente predominância de matrículas na rede privada. Segundo ele, um reflexo das políticas definidas na década de 90 de estímulo à disseminação dessas instituições e que levaram, como consequência, a um maior sucateamento das universidades públicas. Além disso, o diagnóstico do professor aponta para uma Educação Superior como mercadoria, cuja disputa econômica tende a se constituir em monopólio.
A conferência contou com a presença do Diretor do campus Blumenau, João Luiz Martins, com condução dos Professores Drª Gestine Cássia Trindade e Dr. Julio Faria Corrêa.