Projeto da UFSC Blumenau revela talentos e incentiva estudo da Matemática no ensino básico

08/12/2017 17:58

Professora Louise Reips com alunos na premiação nacional da OBMEP 2017

Os conceitos matemáticos podem ser vistos como códigos indecifráveis ou como senhas que abrem novas portas e guardam inúmeras possibilidades. Tudo dependerá da abordagem e da aproximação que a pessoa terá com esse universo.

Infelizmente essa relação dos alunos brasileiros com a Matemática ainda não é das mais amigáveis. O panorama no Ensino Básico segue longe do ideal: segundo relatório do movimento Todos Pela Educação, divulgado em janeiro deste ano, ao deixar a escola apenas 7,3% dos estudantes atingem níveis satisfatórios de aprendizado em Matemática. Se considerarmos somente as escolas públicas o percentual é ainda menor, apenas 3,6% têm aprendizado adequado, o que significa que 96,4% saem da escola sem saber o que é esperado.

Premiação da OBMEP 2017

Despontando como uma alternativa a esse quadro o professor Felipe Vieira coordena, desde 2014, no campus Blumenau da UFSC, o projeto de Treinamento Para as Olimpíadas de Matemática, do qual participam outros sete docentes, além de três graduandas do curso de Licenciatura em Matemática como tutoras. A iniciativa tem três objetivos principais: conseguir um melhor rendimento dos estudantes do Vale do Itajaí nas diversas Olimpíadas de Matemática (ORM, OBM, OBMEP); tornar a UFSC um polo de aplicação de provas, evitando que os alunos da região precisem se deslocar até Florianópolis; e buscar novos talentos.

“Neste ano tivemos um total de 230 presenças nas 10 semanas de treinamentos, com um total de 87 visitantes únicos nos níveis mirim, 1, 2, 3 e universitário. E os resultados são animadores” afirma Vieira. Dos 87 participantes, na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e Olimpíada Regional de Matemática (ORM), 20 foram premiados.

Junto com Vieira, a professora Louise Reips coordena outros três programas associados à OBMEP - Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC), Programa Mentores e o OBMEP na Escola. Este último foca na capacitação de docentes, em toda Santa Catarina, para o treinamento dos alunos nas próprias escolas. Para isso os professores da educação básica participaram de encontros de formação aos sábados, na UFSC Blumenau.

O Programa de Iniciação Científica Jr. visa transmitir aos alunos a cultura Matemática básica e treiná-los no rigor da leitura e da escrita de resultados, nas técnicas e métodos, na independência do raciocínio analítico, entre outros. Com isso, pretende-se despertar a vocação científica do estudante, além de estimular a criatividade por meio do confronto com problemas da área.

O PIC subdivide-se em três níveis. Os estudantes de primeiro nível praticam virtualmente, a distância, por meio de uma plataforma online. Os alunos do Nível II participam presencialmente, em encontros quinzenais orientados pelos professores de graduação da UFSC, Felipe Vieira e Rafael Aleixo de Carvalho – em 2017, foram treze estudantes na turma. Já os treinamentos do Nível III são ministrados no IFSC Gaspar, pelo professor Carlos Eduardo Vitória da Silva.

A coordenação estadual da OBMEP está sob responsabilidade do professor Licio H Bezerra, do Departamento de Matemática da UFSC Florianópolis.

Medalhistas - região Vale do Itajaí
Henrique Cuco – Medalha de Ouro OBMEP 2016 (PIC – Nível II)

Paulo Arthur S Von Knoblanuch - Medalha de Ouro OBMEP 2016 (PIC – Nível II)

Tatiana Pasold – Medalha de Ouro OBMEP 2016 e Prata OBMEP 2017 (PIC – Nível II)

Guilherme Scheidt - Medalha de Bronze OBMEP 2017 (PIC – Nível II)

Daniel Feuser - Medalha de Prata OBMEP 2017 (PIC – Nível II)

Paulo Arthur S Von Knoblanuch - Medalha de Bronze OBMEP 2017 (PIC – Nível II)

Nicole Cristine Schwaemmle - Medalha de Bronze OBMEP 2017 (PIC – Nível II)

Vinicius Hedler - Medalha de Ouro OBMEP 2016 e Bronze OBEMP 2017 (PIC – Nível III)

Petterson Matheus de Souza – Medalha de Bronze OBMEP 2016 (PIC – Nível III)

Lorenzo Andreaus – Medalha de Ouro OBMEP 2016 e 2017 (Programa Mentores)

Silvio Sandri Junior – Medalha de Prata OBMEP 2017 (Programa Mentores)

Martin participa de disciplinas regulares na graduação e de iniciação científica na UFSC Blumenau

Do ensino fundamental à universidade pela Matemática

Com 15 anos a maioria dos adolescentes começa a delinear os primeiros planos para escolher uma profissão, ainda que de maneira tímida e experimental. Porém, para o blumenauense Martin Baraldi Lobe o ingresso nas cadeiras universitárias iniciou ainda no ensino fundamental.

Descoberto durante os Treinamentos para as Olimpíadas de Matemática, o estudante do 9º ano do Colégio Sagrada Família - medalhista na Olimpíada Regional de Matemática no 6º e 7º ano e ouro na OBMEP 2017 - já obteve aprovação, com sucesso, em três disciplinas da graduação em Licenciatura em Matemática - Fundamentos de Matemática, Introdução ao Cálculo e Álgebra I. Ele cursa as matérias isoladamente na UFSC, com um aproveitamento que tem surpreendido colegas e professores.

“Eu comecei os treinamentos no início de 2016. Aí os professores viram meu desempenho e começaram a se interessar. Foi então que o Luiz Rafael (professor da UFSC e tutor nos treinamentos) deu a ideia de eu fazer as disciplinas regulares da graduação como aluno ouvinte”, explicou Martin. Uma consulta aos pais foi feita, previamente, para melhor orientação do estudante.

Além das aulas, o mais jovem “graduando” da UFSC também trilha os primeiros passos na iniciação científica como voluntário em projeto de pesquisa intitulado Introdução à Análise, orientado pelo Prof. Luiz Rafael dos Santos. “O principal objetivo é fazer com que Martin explore e desenvolva cada vez mais sua capacidade de abstração e de identificação de padrões, bem como permita que ele apreenda o formalismo matemático necessário para futuros estudos”, explica o docente. Quando questionado sobre esse novo desafio, Martin demonstra animação: “Eu acho bem legal, porque já posso ir me acostumando a uma Matemática mais avançada. Gosto muito dessa ideia, de como vou ter sempre um caminho melhor a seguir”. E a proposta é seguir mesmo, como Matemático profissional, até a conclusão do doutorado.

Nessa ponte entre universidade e ensino básico, Martin diz ter notado uma melhora no desempenho dos colegas de colégio que também participaram dos treinamentos. Segundo ele, nas conversas entre amigos, os estudantes acharam mais fácil encarar as provas nas competições após frequentarem as tutorias na UFSC.

Enquanto a matrícula regular na Universidade não chega, Martin cursará o ensino médio no Instituto Federal Catarinense (IFC Blumenau). A confirmação da aprovação veio no dia 07/12, em segundo lugar. Quanto ao gosto pelos números, bom, esse parece que vai prevalecer até a escolha do vestibular. “Gosto da Matemática porque é como uma escada que eu posso visualizar que há, sempre, um degrau a mais para subir”, diz, reflexivo. No que depender de um “empurrãozinho” extra dos colegas e professores para escalada acima, o topo já está ao alcance.

(Comunicação UFSC Blumenau)

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