Perfil do graduando UFSC: série apresenta resultados de pesquisa nacional realizada com estudantes

03/06/2019 11:55

(29/05/2019)

O acesso ao ensino superior gratuito no Brasil ainda está em processo de democratização. A exclusão histórica de pobres, pretos/pardos/indígenas, deficientes físicos entre outros é um retrato complexo a ser revertido. Este cenário está em constante mudança deste a aprovação da Lei de Cotas (nº 12.711) que, a partir de 2012, passou a reservar 50% das vagas em cursos de universidade institutos federais para estudantes que realizaram o ensino médio na rede pública.

Para analisar como a Lei de Cotas (nº 12.711/2012), o Estatuto da Juventude (nº 12.852/2013) e as Políticas de Ações Afirmativas têm se comportado nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFEs), a Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes) tem realizado pesquisas para identificar o perfil socioeconômico e cultural do graduando. Conforme o pró-reitor de Assuntos Estudantis da UFSC, Pedro Luiz Manique Barreto a pesquisa é extremamente importante porque apresenta um raio-x da realidade social e socioeconômica que serve de base para definir as políticas de permanência estudantil e para entender quais são as principais características e necessidades dos estudantes. “Os dados apresentados demonstram a democratização do acesso e indicam fatores como os benefícios de atividades físicas para os estudantes”, destacou. Um dos dados apresentados pela pesquisa que surpreendeu o pró-reitor é o indicativo relacionado ao número de alunos que entram na universidade por meio de ações afirmativas e são os primeiros integrantes da família a cursarem o ensino superior, “cerca de 66% dos alunos que entram na UFSC através de ações afirmativas apresentam essa característica”, enalteceu.

A V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das IFEs, edição de 2018, contou com a participação de mais de 1,2 milhão de estudantes de 65 IFEs, sendo 63 universidades e dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets). Da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) participaram 34.205 graduados, o que representou 2,8% do total de respondentes.

Relatório Executivo que apresenta os dados da realidade brasileira foi divulgado este mês. Para apresentar os achados da pesquisa, a Agência de Comunicação da UFSC (Agecom) preparou uma série composta por quatro reportagens especiais. A primeira vai abordar, de maneira geral, os dados encontrados na pesquisa que definem o perfil do graduando do Brasil e da UFSC, tais como faixa etária, cor/raça, orientação sexual/gênero. A segunda vai versar sobre a relação de trabalho e tempo para os estudos, como moram os estudantes, como se constitui sua renda, origem familiar e deslocamento até a universidade. A terceira reportagem falará sobre o histórico escolar desses estudantes, como se deu o ingresso na universidade e aspectos da vida acadêmica e atividades culturais. A última delas vai tratar de assuntos delicados, mas relevantes, tais como as dificuldades estudantis e emocionais, saúde e qualidade de vida.

Definida pelo Estatuto da Juventude como um direito de todos, a educação superior ainda é um sonho distante para muitos jovens. A democratização deste acesso, principalmente por meio da implantação de políticas que permitem o ingresso e a permanência desses estudantes, tem mudado o perfil dos graduandos no Brasil.

A pesquisa divulgada este ano revelou que o perfil racial do estudante das IFEs brasileiras mudou: do universo pesquisado, 51,2% dos estudantes são pretos/pardos/quilombolas. O número de indígenas aldeados dobrou da pesquisa de 2014 para a de 2018. Na UFSC, 77,7% dos respondentes são brancos; 12,9% se declaram pardos; 5,3% pretos; e 0,5% indígenas.

As questões sobre gênero e orientação sexual foram inovações do questionário da V Pesquisa. Segundo os dados, na UFSC 58% dos respondentes são do sexo feminino, sendo que do total, 73% se declaram heterossexuais.

O perfil do estudante da UFSC é composto, na maioria, por jovens entre 18 e 24 anos (68%); 77,2% ingressaram via Vestibular e 17,5% via Enem/Sisu; 63,9% entraram na universidade por ampla concorrência e 36,1% via cotas, o que representa 12.343 estudantes; 55,8% estudou somente ou a maior parte em escola pública; 86,3% são solteiros; e 92,9% não possuem filhos.

Os dados de ingresso por ações afirmativas na UFSC mostram que 12,7% deles vêm de escola pública e possuem baixa renda (renda bruta per capita igual ou inferior a 1,5 Salário Mínimo), 3.010 ingressaram pela cota preto/pardo/indígena e 89 pela de deficiente. Ainda, 82,5% realizaram o ensino médio padrão e 13,7% o ensino médio integrado ao técnico. Há um número significativo de estudantes que concluíram o Ensino Médio via Educação de Jovens e Adultos (EJA), são 755 estudantes na UFSC.

Dos respondentes, 25,5% são estudantes de Engenharias, seguido de 21,8% da área de conhecimento Sociais Aplicadas e 12,4% da área de conhecimento Humanas; 48,5% dos graduandos estudam em período integral; 31,5% diurno; e 20% noturno.

 

A vida do graduando da UFSC

Os estudantes da UFSC residem, na sua grande maioria, na mesma cidade em que estudam, sendo que 35,4% moram com os pais e 22,4% sozinhos. Para chegar até a universidade, 41% usam transporte coletivo (ônibus, van, etc) e 32,3% se deslocam a pé. 10. 697 estudantes moram entre 10 e 50 quilômetros de distância da universidade; 36,3% trabalham (12.466) e 10.059 estão à procura de trabalho (29,4%). A maioria dos que trabalham possuí vínculo de estágio (14,5%) ou carteira assinada (3.366).

Da formação dos pais, 47,8% das mães(quem criou) e 44,9% dos pais (quem criou) possuem ensino médio ou ensino superior completos.

Dos respondentes, 62% relataram que a moradia da família é própria ou quitada e 19,4% é alugada. A maioria possui água encanada (98,1%), rua pavimentada (83,9%), acesso à Internet em casa (96,3%), entre um e três computadores em casa (81,7%), entre um e dois automóveis na casa da família (70,4%).

Dentre os graduandos da UFSC que participaram da pesquisa, 47,6% realizam as suas principais refeições no Restaurante Universitário e 10.427 possuem ou participam de alguma ação do Programa de Assistência Estudantil.

Os estudantes da UFSC se informam pela mídia eletrônica formal (49,4%), seguido pelas Redes Sociais (25,3%); 48% possuem um bom domínio do inglês; e 43,2% dizem que aumentaram a leitura de obras literárias após ingressar na universidade.

 

Das dificuldades enfrentadas pelo graduando da UFSC

Para 23,7% dos graduandos da UFSC que responderam à pesquisa (8.095), as dificuldades financeiras enfrentadas por eles interferem significativamente na sua vida ou no contexto acadêmico; o tempo de deslocamento para a universidade afeta 19,8% dos estudantes (6.790); 15,8% alegam carga excessiva de trabalho (5.397); e 15% têm dificuldade de aprendizado (5.115).

Os problemas emocionais também afetam 10.184 estudantes, sendo a ansiedade a principal delas: 24.279 dos respondentes disseram sofrer de ansiedade nos últimos 12 meses. O abandono ao curso já foi considerado por 53,8% dos estudantes, sendo a maioria declara que pensou nessa possibilidade devido à carga de trabalho acadêmico (19,4%).

Confira AQUI o Relatório Executivo completo contendo os dados nacionais

Nicole Trevisol / Jornalista da Agecom / UFSC

Ricardo Torres / Agecom / UFSC

*Arte: Leonardo Reynaldo / Agecom / UFSC

** Foto: Ítalo Padilha / Agecom / UFSC

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